Fernando Rees nem sequer teve tempo de comemorar. Após a prova, na madruga de sábado para domingo, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) decidiu por desclassificar a equipe Larbre Compétition das 6h de São Paulo. A altura do carro estava incorreta.
O próprio piloto, por meio de nota oficial, esclarece:
Gostaria por meio de esta carta esclarecer o que se passou com a desclassificação do meu carro ao fim das 6 Horas de São Paulo, após eu e minha equipe termos vencido a corrida. Gostaria também de informar sobre qual é a situação atual deste ocorrido.A decisão da FIA de excluir o carro Corvette número 50 da equipe Larbre Compétition levou horas para ser tomada. A decisão saiu no domingo, precisamente às 00h32min – mais de seis horas após o término da corrida. Durante todo este tempo, eu estive no autódromo, e acompanhei pessoalmente o processo. Foram horas de medições, análises, discussões, e desentendimentos por parte dos próprios vistoriadores, uma vez que eles estavam divididos com relação à avaliação do carro e a decisão a ser tomada. Não foi um processo fácil e simples – havia muita margem para discussão. Geralmente, um processo assim que pode levar à exclusão é decidido em pouco tempo. Neste caso, a situação era mais complexa.O motivo da desclassificação é a altura do para-choque dianteiro do carro. O regulamento do campeonato exige que o carro esteja a uma altura mínima do solo. O meu carro, nas medições feitas pelos vistoriadores do campeonato e pela minha equipe antes da corrida, estava com uma margem de 3 mm de segurança acima desta altura mínima determinada pelo regulamento. Após a corrida, novas medições foram feitas. O carro como um todo permanecia com os 3 mm acima da altura mínima. Porém, a parte lateral esquerda do para-choque dianteiro estava 4 mm abaixo desta altura mínima. Isso quer dizer que, durante a corrida, essa parte do para-choque dianteiro sofreu uma alteração de aproximadamente 7 mm de altura. Foi essa medição feita no para-choque dianteiro do carro que gerou as discussões e desentendimentos entre os vistoriadores da FIA após a corrida, e que culminou com a desclassificação do meu carro.O processo de avaliação do carro levou muito tempo. Depois de verificada a variação da altura do para-choque dianteiro, a FIA determinou que a equipe retirasse o para-choque e colocasse um para-choque novo no lugar para questionar se se tratava de um dano estrutural da peça ou de um ajuste planejado pela equipe. Com o novo para-choque, não houve variação de altura, e o carro estava de acordo com o regulamento técnico. Foi então determinado pela FIA para que a equipe retirasse o para-choque dianteiro do seu outro carro, número 70, que também participou das 6 Horas de São Paulo e terminou na terceira colocação. O para-choque foi retirado do carro número 70 e colocado no meu carro, número 50. Novamente, as medições feitas também com este para-choque estavam de acordo com o regulamento técnico. Com base nisso, estava claro que a alteração do para-choque dianteiro do meu carro não era resultado de um ajuste do carro (até porque 7 mm de alteração somente em um lado do para-choque dianteiro não é uma alteração que beneficiaria o desempenho do carro, aliás, muito pelo contrário, esta variação desequilibrou o carro e influenciou negativamente o desgaste dos pneus durante a corrida).O próximo passo da avaliação da FIA foi contestar que, apesar da estranha variação de altura do para-choque dianteiro, não havia sinais de danos na peça. E simplesmente olhando a peça, confirmo que havia marcas de toques e arranhões, mas nada muito sério mesmo. Mas grandes marcas não são necessariamente necessárias para se tenha uma peça estruturalmente danificada. Nos encaixes da peça, e em sua rigidez, marcas não são visíveis, mas podem ter grandes consequências. Quanto a esta nova contestação, não havia muito a ser discutido. Nada poderia ser medido que justificasse uma opinião ou outra.Depois de mais se seis horas de discussão, saiu a decisão da FIA: carro número 50 desclassificado devido a insuficiência de altura mínima do para-choque dianteiro. De imediato, a equipe Larbre Compétition oficialmente apelou a decisão – custa 14 mil Euros para a equipe contestar a decisão da FIA. Esta decisão congela o resultado da corrida, que neste momento permanece extraoficial e sob judice. O julgamento final acontecerá em dois meses. Até então, a Larbre Compétition trabalhará para fortalecer o seu apelo e recuperar a vitória conquistada nas 6 Horas de São Paulo. O fortalecimento do apelo se dará com base nas seguintes questões:1.Que ao menos em dois momentos durante a corrida que foram mostrados na transmissão da televisão o carro número 50 teve contato com outros carros que poderiam ter ocasionado a variação de altura da lateral esquerda do para-choque dianteiro;2.Que a variação de altura da lateral esquerda do para-choque dianteiro é consequência de ocorrências da corrida, e não de um ajuste do carro realizado pela equipe;3.Que a variação de altura da lateral esquerda do para-choque dianteiro teve uma influencia negativa no desempenho do carro;4.Que o processo de avaliação da altura do para-choque dianteiro não foi capaz de provar qualquer culpabilidade por parte da equipe Larbre Compétition.Ainda, o processo de avaliação da altura do carro foi questionável. O regulamento exige que a altura do carro seja medida com os pneus com pressão de 1.5 bar. Cinco horas depois de terminada a corrida, a pressão dos pneus do carro 50 não foi conferida. Portanto, com pneus frios há algumas horas, dificilmente pode-se afirmar que a altura do carro estava sendo medida com a devida pressão dos pneus.Em todo caso, o resultado do apelo sairá em dois meses. Até então, não se pode comemorar a vitória nem lamentar a desclassificação. A Larbre Compétition contestou a decisão da FIA com base em sua confiança de que a desclassificação pode ser revertida, e durante as próximas semanas o apelo será fortalecido com imagens, dados técnicos e de telemetria, e uma avaliação rigorosa do regulamento por parte da equipe jurídica da Larbre Compétition.Obrigado pela atenção e compreensãoFernando ReesPiloto do carro 50 da Larbre CompétitionCampeonato Mundial de Endurance da FIA (FIA WEC),